Deus deve ser o fundamento de toda vida verdadeiramente positiva. Deus existe e todo o resto é conseqüência desta existência. Não importa a forma de sua crença. Se você acredita no Deus Pai Todo Poderoso Criador do Céu e da Terra; no Iahweh ou Jeovah do Velho Testamento; na Inteligência Suprema Causa Primária de Todas as Coisas conforme o Espiritismo; no Motor Imóvel que move sem ser movido como ensinava Aristóteles, não importa; todas essas formas de crença são aceitáveis se vividas com grande intensidade e profunda sinceridade.
A crença em Deus elimina a sensação de orfandade e dá a cada um de nós a certeza de que não estamos sós no universo. Deus é a referência primeira e a força que mantém o equilíbrio do universo e nada acontece que não seja objeto de sua atenção. Como diz Jesus "Deus nâo está indiferente nem à morte de um pardal, nem a um cabelo que caia de nossa cabeça ", se é assim, por que permitir que nosso coração se turbe e nos preocupemos doentiamente com o dia de amanhã. Por que esse desejo permanente de conhecer o futuro em razão do medo que o amanhã nos infunde? A resposta é simples: Nós ainda não temos a fé suficiente para nos entregar tranqüilamente à Providência Divina.
É importante, contudo, lembrar que Deus faz conosco mas não por nós, ou seja, em nosso lugar. Não podemos em nome da confiança absoluta em Deus, cruzar os braços e deixar que Deus cuide do resto. Nós temos que fazer a nossa parte. Repare bem nas frases de Jesus: "buscai e achareis, batei e a porta vos será aberta." Nessas sentenças do Cristo há dois momentos, o do homem e a resposta de Jesus; o que equivale a dizer que, se não buscarmos, não acharemos ou se não batermos, a porta não se abrirá para nós.
Existe um texto semelhante a uma prece, intitulada "Pegadas da Areia" em que alguém fala que caminhava pela praia e via na areia quatro pegadas que ele interpretava como sendo as dele e as de Jesus. Em um certo momento de sua vida, um momento muito difícil, o homem olhando a areia só viu duas pegadas que ele interpretou como sendo as suas e admitiu ter Jesus, naquela crise, o abandonado. Nesse momento o texto apresenta o que seria a fala divina: "Não, meu filho, naquele momento eu o carreguei no colo". Ora, se Jesus, exatamente, no momento difícil o carregou no colo, qual foi o mérito do homem já que Jesus o protegeu de um modo tão completo? Agindo desse modo, Jesus impede que o homem cresça e viva a experiência dolorosa até ao fim e até mesmo fracasse. Só com as quedas é que a criança aprende a andar direito.
Este nosso ponto de vista parece respaldado na parábola do filho pródigo. Conta Jesus que havia uma fazenda onde vivia um fazendeiro com seus filhos. Um dia, o filho mais novo, chamou o pai e lhe disse que desejava partir. Argumentava que precisava viver fora da fazenda, experimentar a vida fora do lar. O pai não impediu que o filho partisse e chegou mesmo a lhe dar a parte que ele tinha por direito na herança. O rapaz partiu e, por ser insensato, gastou todo o seu dinheiro em jogo, bebida e mulheres. Assim, em pouco tempo, estava despojado do que possuía e, como não conseguisse emprego, não tinha o que comer. A fome cresceu a tal ponto que ele, vendo uma vara de porcos que comia a sua lavagem, composta de bolotas de carvalho, abaixou-se para comer com os animais, porém neste momento lembrou-se do pai e decidiu voltar para a casa. Em casa, foi muito bem recebido pelo pai, o que, inclusive, não foi compreendido pelo filho que havia ficado.
Na parábola, o fazendeiro é Deus e os filhos, a humanidade. Note-se que o Pai (Deus) respeitou o livre arbítrio do filho e quando este viveu a experiência dolorosa não foi buscá-lo para trazê-lo de volta à sua casa. Voltar era uma decisão do filho como partir também o havia sido. O Pai esperou que o sofrimento amadurecesse o filho e ele voltasse quando compreendesse o erro cometido. Por fim, o pai, não o tomou no colo, deixou-o com ele mesmo a fim de que aprendesse com a dor.
Deus, como já o dissemos há pouco, deve ser compreendido como base e fundamento do Universo, como a certeza das certezas e a nossa crença nele, pode impedir o nosso desespero e insegurança perante a vida. Se tivermos certeza total de que Deus existe, teremos força para melhor enfrentar as adversidades.
A crença na existência de Deus nos dá um sentido para a nossa vida e a descrença na sua existência aponta para a falta de sentido e para o absurdo dos existencialistas. É desta falta de sentido que nos fala o romancista existencialista André Gide:
"Para onde quer que eu volva meus olhos, não vejo em redor de mim senão angústia. Aquele que hoje permanece contemplativo dá prova de uma filosofia desumana, ou de cegueira monstruosa" (Moeler, Literatura do Século XX e o Cristianismo).
Gide, existencialista e ateu, sente-se confuso perante a realidade que se lhe apresenta aos olhos. Em 1939, ele escreve:
"Por toda parte vejo angústia, desordem e loucura; justiça escarnecida, direito traído, mentira. E pergunto-me que importa o que a vida possa ainda proporcionar-me. Que significa tudo isto? Onde vai dar tudo isso, e os demais? Em que absurdo lodaçal se atola a humanidade ! Como e para onde fugir?".(Idem).
Este discurso, cheio de tristeza, desânimo e desespero nos dá um exemplo bastante claro do que acontece com aqueles que não acreditam em Deus e, portanto, perdem o sentido da vida. Não entendem a razão do sofrimento e o mundo lhes parece regido pela injustiça. Nos casos mais extremos esta falta de sentido, leva à depressão e em seguida, aos vícios mais degradantes e, não raro, ao suicídio voluntário ou involuntário.
Ao contrário, o homem que acredita em Deus, mesmo que não tenha uma resposta clara para o que vê na vida, sabe que não se trata de injustiça nem imagina que o mundo possa ser governado por um Deus tirânico e perverso, pois um Deus com estas características, não seria Deus. Ainda ontem, dia 8 de fevereiro de 2004, assisti a um documentário sobre os negros no Brasil, intitulado Fio de Memória onde pude receber uma bela lição de vida.
Em um certo trecho do documentário foi entrevistado um sambista e partideiro do Morro do Salgueiro, se não me engano, chama-se Aniceto. Na época da entrevista, Aniceto está com mais de oitenta anos, cego, diabético e se locomove em uma cadeira de rodas. Apesar desta situação, Aniceto se mostra lúcido, calmo e divertido, chegando, inclusive, a propor alguns enigmas ao seu entrevistador. Em meio à entrevista o repórter pergunta:
O senhor está diabético?
- Graças a Deus, responde Aniceto.
- Mas como, graças a Deus? Admira-se o repórter.
- Sim. Deus sabe o que faz. Eu é que não sei o que quero.
A que se deve esta atitude do velho sambista em uma situação que a maioria das pessoas consideraria lamentável? A resposta é simples: a Deus. Se um homem acredita verdadeiramente em Deus, é como uma rocha que nada abala. É como aquele homem de quem Jesus fala que construiu a sua casa sobre a rocha e veio a chuva e vieram os ventos fortes mas a casa continuou firme. Tratando deste tema, escreve William Law:
"A vida separada das criaturas, em oposição à vida em união Com Deus, é somente uma vida de vários apetites, fomes, vontades, e, possivelmente, nada mais. O próprio Deus não pode fazer que uma criatura seja em si mesma, na sua natureza, nada mais do que um estado de vazio. A vida mais alta é que é a natural e nenhuma criatura pode ir além dela; pode apenas ter um pendor para a bondade, não lhe sendo possível alcançar uma vida boa e feliz, senão por intermédio da vida de Deus, nela habitando e em união com ela. Esta é a vida dupla que, necessariamente, tem de coexistir em toda criatura boa, perfeita e feliz. (In Huxley, Filosofia Perene).
Somos criaturas de Deus, criaturas têm de ter algum tipo de relação com o Criador. Negar a relação com a divindade é solapar as próprias bases como um homem que serrasse o galho da árvore onde está sentado. Por isso devemos considerar, como fundamento de uma vida saudável, a crença em Deus, como a descrença seria a causa de uma vida doentia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário