Toxicodependências
- Barbitúricos
Apresentação
Os barbitúricos são depressores derivados do barbital. Podem ser organizados em três categorias:
•Drogas de longa duração (8 a 16 horas) – tratamento de epilepsia, controle de úlceras pépticas e pressão sanguínea alta.
•Drogas de média duração (4 a 6 horas) – pílulas para dormir.
•Drogas de curta duração (breve) – anestésicos ou sedativos.
Estas substâncias afectam o receptor do neurotransmissor GABA, induzindo a inibição da actividade do Sistema Nervoso Central e reduzindo, consequentemente, as funções de alguns sistemas orgânicos. Tem efeitos sedativos, anticonvulsivos e relaxantes, sendo por isso utilizados em tratamento de ansiedade e agitação.
São encontrados em forma de comprimidos ou cápsulas e podem ser consumidos por via oral ou intravenosa.
Origem
O ácido barbitúrico deve o seu nome a Santa Bárbara, uma vez que foi sintetizado no dia da mesma por Von Baeger (1863). Desde essa altura que foram e têm sido investigados mais de 2500 derivados do ácido. A partir de 1903 começou a vender-se o barbital (o primeiro barbitúrico hipno-indutor), que tem o nome comercial de Veronal (alusão a Verona, a cidade italiana mais tranquila). Em 1912 surge o fenobarbital com o nome comercial de Luminal, que apresenta uma acção mais prolongada. Este fármaco teve ampla aceitação clínica, sendo utilizado actualmente como um anti-convulsivo eficaz.
Os barbitúricos, juntamente com os opiáceos, foram durante bastante tempo as substâncias usadas para tranquilizar a agitação e ansiedade de doentes com problemas psiquiátricos. Este facto contribuiu para o alargamento da sua utilização clínica e, consequentemente, para o seu consumo abusivo, que se veio a tornar num problema social e sanitário em vários países.
A Organização Mundial de Saúde, desde de 1956, fez vários alertas para as consequências do abuso de barbitúricos, mas apenas em 1971, com a Convenção de Viena, é que se iniciou o controlo dos mesmos.
Estes fármacos passaram a ser comercializados apenas com receita médica para, progressivamente, serem retirados da composição de vários medicamentos. Devido ao esforço intenso de restrição dos anos 80, nos anos 90 o consumo decaiu fortemente em vários países, tendo inclusivamente desaparecido do mercado negro, com excepção dos que eram desviados ou roubados dos laboratórios farmacêuticos.
Em Portugal, deparamo-nos com um crescimento exponencial, o qual é agravado pelo facto do consumo de barbitúricos ser frequentemente associado ao de benzodiazepinas.
Efeitos
Quando consumidos em doses fracas podem provocar sensações de tranquilidade, relaxamento, conciliar o sono, diminuir levemente a tensão arterial e a frequência cardíaca, provocar falta de coordenação motora, produzir perturbação da consciência e, ocasionalmente, euforia.
As quantidades mais elevadas já podem diminuir os reflexos, diminuir a memória e a atenção, modificar o humor, diminuir a afectividade, debilitar e acelerar o ritmo cardíaco (pulso), dilatar as pupilas e provocar lentidão na respiração. Nestes casos é possível atingir o estado de coma e a morte.
Riscos
Nos casos de consumo prolongado poderão surgir transtornos como anemia, hepatite, depressão, descoordenação motora, entorpecimento da fala, etc. É frequente os consumidores crónicos apresentarem irritabilidade e agressividade, para além de letargia, confusão e falta de controlo emocional (choro). A nível neurológico poderá surgir nistagmia, disartria e ataxia cerebelar.
Torna-se particularmente perigoso misturar barbitúricos com álcool, o que pode ser letal. Por sua vez, a mistura de barbitúricos com anfetaminas é considerada uma das formas mais perigosas de abuso de substâncias.
Apesar de terem várias aplicações na medicina, os barbitúricos não atenuam dores severas. Pelo contrário, a hiperaugesia ou o aumenta da reacção à dor pode verificar-se quando o indivíduo está sob o efeito destas substâncias.
Um consumo de algumas semanas pode levar à perda do poder hipnótico dos fármacos. Assim, os barbitúricos podem não só deixar de ser eficazes como pílulas para dormir, como passar a perturbar o sono, em especial o período do sono em que ocorrem os sonhos, o que poderá provocar consequências a nível psicológico.
Quando dissolvidos em água e injectados na veia podem provocar abcessos, feridas graves, gangrena, etc.
O uso de barbitúricos deverá ser evitado por mulheres grávidas.
Tolerância e Dependência
O organismo pode adquirir tolerância, sendo esta mais reduzida do que a que ocorre com os opiáceos, o que aumenta as probabilidades de overdose. Existe dependência física e psicológica. Verifica-se uma tolerância cruzada com outros depressores do Sistema Nervoso Central, entre os quais o álcool e as benzodiazepinas.
Síndrome de Abstinência
Em casos crónicos, o síndrome de abstinência pode durar até duas semanas, sendo que ao longo deste período os sintomas vão sofrendo uma intensificação. O indivíduo pode sentir perda de apetite, ansiedade, insónia, transpiração, agitação, hiperatividade, tremores, convulsões, confusão, alucinações fortes, paranóia, desorientação no tempo e espaço, náuseas, vertigens, cãibras abdominais, aumento da temperatura e da frequência cardíaca e risco de vida.
Em casos extremos poderá ainda ocorrer delirium tremens semelhante ao das crises alcoólicas, podendo traduzir-se em estados psicóticos, exaustão, colapso cardiovascular, falha dos rins e morte.
- Benzodiazepinas
Apresentação
As benzodiazepinas são psicofármacos com efeitos depressores. São produzidas por síntese química e podem assumir a forma de comprimidos, cápsulas ou, menos frequentemente, a de ampolas ou supositórios. Costumam ser conhecidas pelos nomes dos seus fabricantes, como por exemplo valium, rohipnol, buprex, mandrax, artane, etc. A via de administração mais habitual é a oral, sendo que a intravenosa é também comum.
São utilizadas com fins terapêuticos no tratamento da ansiedade e insónias.
Facilitam a acção do ácido gamma-aminobutírico (GABA) sobre os seus receptores. O GABA é um neurotransmissor inibidor em quase todos os núcleos do Sistema Nervoso Central. Tem efeitos a nível ansiolítico, relaxante, anti-convulsivo ou hipnótico. Abranda as mensagens de, e para o cérebro, incluindo as respostas físicas, mentais e emocionais.
Origem
Em 1955, Sternbach fez a síntese da primeira benzodiazepina, mas só mais tarde, em 1957, é que Kendall descobre o efeito tranquilizante do oxidoclorodiazepam. A partir desta altura foi sintetizado um grande número de substâncias semelhantes - diazepam (Valium), o flunitrazepam (Rophynol), o oxazepam (Serenal) e o lorazepam (Temesta) -, sendo que os compostos incluídos nesta família ultrapassam já os 2000. Destes, apenas 35 são utilizados com fins terapêuticos no tratamento de ansiedade e insónias.
Tornaram-se os fármacos mais receitados para estes problemas a partir dos anos 60, tendo vindo a substituir os barbitúricos devido à sua maior segurança e menores efeitos secundários. Actualmente, constituem o grupo de fármacos mais receitado em todo o mundo.
Efeitos
Os seus efeitos ansiolíticos, provocam no indivíduo um estado de relaxamento muscular, sonolência, alívio da tensão e ansiedade, cansaço e letargia que podem ser acompanhados por desinibição, loquacidade, excitação, agressividade, linguagem afectada, sentimentos de isolamento ou depressão.
Doses elevadas poderão provocar náuseas, aturdimento, confusão, diminuição da coordenação psicomotora, sono, sedação excessiva, perdas de memória, lentificação do pensamento ou instabilidade emocional.
Riscos
Quando combinadas com o álcool, as benzodiazepinas poderão ter o seu efeito acentuado, sendo que esta combinação pode provocar uma overdose. No entanto, as benzodiazepinas quando consumidas de forma isolada possuem uma toxicidade muito baixa e, consequentemente, uma grande margem de segurança, o que reduz o risco de morte. De facto, as tentativas de suicído com benzodiazepinas não costumam ser bem sucedidas, excepto quando são combinadas com outras substâncias como o álcool.
Não é aconselhado o uso destas substâncias durante a gravidez e a lactação.
Tolerância e Dependência
Existe tolerância às benzodiazepinas mas esta não é muito acentuada. Quando consumidas durante vários meses, esta tolerância aumenta, provocando dependência física e psicológica.
Síndrome de Abstinência
Para não ser perigosa, a interrupção do consumo deve ser efectuada gradualmente. A síndrome de abstinência varia consoante a duração da acção das benzodiazepinas e pode manifestar-se pelo aumento da ansiedade, insónia, irritabilidade, náuseas, dor de cabeça, tensão muscular, tremores, palpitações ou disforia.
Em casos mais graves podem ocorrer convulsões, quadros confusos, despersonalização, diminuição do limiar de percepção dos estímulos sensoriais, psicose, etc. fonte: http//www.psicoastro.com
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